Assassinatos de mulheres triplicam no Ceará no 1º trimestre. Já são 144 mortes
Passavam poucos minutos das 17 horas da segunda-feira, segundo dia do
mês de abril, quando um grupo de bandidos armados invadiu uma residência na Rua
F do bairro Parque Soledade, em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza
(RMF). Sem demora, os criminosos acharam o alvo que procuravam. Era a jovem
Jocilene Silva da Penha, 25 anos. Suspeita de integrar uma facção rival, ela
não teve chances de sobreviver: foi executada sumariamente com tiros de pistolas
de vários calibres.
O que aconteceu com Jocilene foi o mesmo que ocorreu na noite anterior,
no Domingo de Páscoa (1º), no mesmo bairro. Um grupo armado invadiu uma
residência noutra rua do Parque Soledade e matou com mais de 50 tiros a dona de
casa Maria do Socorro de Sousa, 53 anos; e o genro dela, João Lopes de Sousa
Lima, 42.
Os motivos dos dois assassinatos, aparentemente, seriam os mesmos: a
guerra entre facções que dominam a comunidade. Guardiões do Estado (GDE) e
Comando Vermelho (CV) prosseguem suas escaramuças na periferia de Fortaleza, e
a matança diária não tem fim. Por conta disso, o mês de março terminou com 428
assassinatos no estado e a soma dos três meses de 2018 já chega a 1.344
homicídios. Em dois dias de abril, foram 37. Total, 1.381 mortos na guerra
urbana que atinge o Ceará.
Mulheres
Com o assassinato da jovem Jocilene e a execução sumária de Dona Maria
do Socorro, outro recorde aparece na estatística criminal do estado. O número
de mulheres assassinadas triplicou no estado na comparação entre os primeiros
trimestres de 2017 e 2018. No ano passado, entre janeiro e março, 43 mulheres
foram assassinadas no Ceará (10 em janeiro, 15 em fevereiro e 18 em março).
Neste ano, o número saltou para 144 (56 em janeiro, 42 em fevereiro e 46
em março). A diferença entre os dois trimestres é de uma alta de 234,8 por
cento. E com as mortes das duas mulheres em Caucaia, entre os dias 1º e 2 de
abril, o número se eleva para 146.
“Novinha” sequestrada e morta
Na última quinta-feira de março (29), a guerra das duas facções fez mais
uma vítima inocente. Desta vez, em Fortaleza. Era por volta de 19 horas quando
um carro preto apareceu nos becos do Planalto Pici, bairro situado a zona Oeste
da Capital. Bandidos armados com pistolas avistaram uma garota que tinha saído
de casa para comprar um lanche numa mercearia próxima. Eles arrastaram a
“novinha” para a morte. A garota foi colocada à força dentro do carro e
desapareceu. Era a adolescente Kauane Helen Guimarães da Silva, que tinha
apenas 13 anos.
Após o “seqüestro” de Kauane, a família começou a receber ligações nos
celulares. Do outro lado da linha, bandidos disseram que eram do “Trem” (numa
referência ao CV) e que haviam “passado por cima” de Kauane. A família entrou
em desespero. No dia seguinte, veio a confirmação da tragédia. A garota
apareceu morta nas margens da Lagoa da Parangaba. Apresentava marcas de tiros
na cabeça e teve um dos olhos arrancado, a prova da crueldade das facções.
Ainda na Sexta-Feira Santa, uma tia da menina reconheceu o corpo no
necrotério da Coordenadoria de Medicina Legal (Comel), da Perícia Forense do
Ceará (Pefoce). No mesmo dia, a Polícia Militar deteve dois suspeitos do crime
e continua na caça a outros dois. Seriam bandidos de uma favela do bairro Bela
Vista e que já morado no Planalto Pici. A família da adolescente diz que a
garota não pertencia a nenhum grupo criminoso. Kauane entrou na lista das
mulheres mortas no Ceará em 2018.
Por Fernando Ribeiro
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