Pagamento é antecipado e em dinheiro vivo e prazo certo
Mumbai
Está custando, “no mercado livre”, até R$ 70 o voto para deputado estadual, e R$ 100 para deputado federal. O pagamento é em espécie, dividido em parcelas, até as vésperas do dia da votação. Os “vaqueiros”, como estão sendo chamados os outrora cabos eleitorais, não toleram atraso nas parcelas negociadas, tanto que o mês de agosto é chamado de período da recompra, pois naquele mês alguns contratos chegam a ser desfeitos por descumprimento do calendário de desembolso.
Ahmedabad
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Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom / Abr Veja |
Está custando, “no mercado livre”, até R$ 70 o voto para deputado estadual, e R$ 100 para deputado federal. O pagamento é em espécie, dividido em parcelas, até as vésperas do dia da votação. Os “vaqueiros”, como estão sendo chamados os outrora cabos eleitorais, não toleram atraso nas parcelas negociadas, tanto que o mês de agosto é chamado de período da recompra, pois naquele mês alguns contratos chegam a ser desfeitos por descumprimento do calendário de desembolso.
As negociações são do domínio público no mundo político,
mas a cumplicidade, inclusive entre concorrentes, dificulta o trabalho da
fiscalização para comprovar a existência dos contratos. Só nos flagrantes, no
dia da votação, a compra direta nas proximidades das seções eleitorais é
comprovada, com quase nenhuma consequência para comprador e vendedor.
O procurador-regional eleitoral cearense, Anastácio
Nóbrega Tahim Júnior, apoiado em informações publicadas pelo Diário do
Nordeste, relatando pronunciamentos de deputados na Assembleia Legislativa
cearense sobre a compra de votos, já tomou o depoimento de dois parlamentares
nesta semana.
Os depoentes não negaram o relatado pelo jornal, mas
disseram não ter provas do que afirmaram, apesar de ser voz corrente a prática
do crime para captação de votos, disseram. Eles, e tantos outros, só talvez
nominem os que lhes tomaram os votos pelo poder do dinheiro ao fim da disputa.
E se forem derrotados, portanto, nenhum procedimento judicial os obrigará a
nominar os responsáveis por essa anomalia entranhada no processo eleitoral
brasileiro.
A Justiça Eleitoral, com os seus parcos recursos
investigatórios, e o Ministério Público, idem, jamais terão condições de
alcançar a todos quantos conquistam mandatos utilizando-se de expedientes
reprováveis. A Lava-Jato está mostrando que as prestações de contas dos
candidatos aprovadas pelos tribunais, uma exigência da legislação para todos os
eleitos, não correspondem à realidade dos gastos da campanha.
Contabilizado
É a realidade do Caixa 2 nas eleições brasileiras. Em
duas oportunidades diferentes, neste ano, tratamos do tema neste espaço. Em uma
delas quando apontávamos a irrealidade que são os tetos fixados pela legislação
para os gastos de todos os candidatos no pleito deste ano, sem impedimento de
qualquer das práticas motivadoras dos gastos da eleição no atual modelo
brasileiro.
“Não existe campanha política no Brasil sem dinheiro não
contabilizado, Caixa 2. Não se faz. Se alguém disser que faz, não está falando
a verdade”, disse Mônica Moura, mulher de João Santana, responsáveis pelas
últimas campanhas do PT nacional. Não é uma afirmação à toa. Ela está nos autos
do processo em que é réu o ex-presidente Lula, no caso do sítio de Atibaia. Ela
e o marido são réus em ação criminal por lavagem de dinheiro, exatamente por
terem recebido recursos para pagamento dos trabalhos do casal, sem o devido
registro nos comitês financeiros das campanhas respectivas.
Duda Mendonça, outro destacado marqueteiro nacional,
também já fez afirmação semelhante, agora, recentemente, em relação às eleições
para o Governo de São Paulo, em 2014, quando trabalhou para Paulo Skap, e bem
antes, no célebre processo do Mensalão, por ter recebido parte da sua
remuneração em uma das campanhas do ex-presidente Lula, em conta secreta no
exterior. Dinheiro não registrado na prestação de contas encaminhada ao
Tribunal Superior Eleitoral, e por este aprovada.
Principal
Estes são apenas exemplos de desvios em disputas
majoritárias, as mais visadas. As dos parlamentares são bem mais soltas, e
consequentemente menos fiscalizadas. É verdade, também, que somam valores bem
menos expressivos em sendo comparadas com as de prefeitos, governadores e presidente
da República.
O despudor de muitos para comprar votos inclui, além do
dinheiro em espécie, a utilização da máquina pública da União, dos estados e
dos municípios. Nestes, o caminho é aberto pelas emendas parlamentares ou pelos
convênios intermediados entre eles e os dois outros governos, isto sem se falar
nos empregos, talvez a parte menos onerosa para o Erário.
Uma fiscalização percuciente da aplicação desses
recursos, sem dúvida, constatará que parte deles foi utilizada para fins
eleitorais. E quando os valores das emendas e convênios são considerados
insuficientes para satisfazer os “vaqueiros”, é imperioso o aporte de reais
para fechar a conta correspondente aos preços estipulados por voto.
Lamentavelmente, pela falta de educação política, de
compromisso com a causa pública, aliado ao interesse pessoal e familiar de
muitos dos pretendentes a ter mandatos eletivos, mulheres e homens cônscios de
suas responsabilidades cidadãs têm que recorrer às forças repressivas oficiais
para inibirem as ações maléficas deturpadoras dos resultados do pleito e, por
extensão, a formação de uma representação política deformada, sem compromisso
com os verdadeiros interesses da sociedade, resultando, daí, a má gestão dos
recursos dos executivos, assim como no negativo desempenho dos diversos
legislativos.
O eleitor é, sim, por fim, o principal responsável e
vítima dessa situação real. Ele quase nunca recebe os R$ 100 ou R$ 70 como foi
negociado com os candidatos, mas sofre todas as consequências por ter aceitado
ser guiado por inescrupulosos.
Fonte:
Diário do Nordeste
Tags:
Política