CASO MILAGRES. “Uma de nossas equipes foi intimidada pelos PMs”, diz delegado
Mumbai
*Conteúdo “Diário do
Nordeste
Ahmedabad
Centro
de Milagres/Foto: Henrique Macêdo
Todo caminho para apagar um rastro também deixa outros
rastros e a Polícia Civil sabia disso. Um dos primeiros passos na investigação
era refazer o caminho da Polícia Militar, senão na madrugada dos ataques, logo
na manhã que sucedeu. Porque passar algumas horas do dia tentando apagar
imagens das câmeras dos estabelecimentos comerciais era revelar que algo elas
tinham a dizer. Não adiantaram as duas tentativas de destruir os arquivos com a
formatação dos discos rígidos. A imagem do supermercado Burunganda seria
reveladora: após todos os suspeitos em cena mortos, ou evadidos, três policiais
atiraram sucessivamente de fuzil na direção de cinco reféns, “visivelmente
indefesos”, feitos alvos a sete metros de distância.
As várias narrativas de alteração das cenas do crime,
relatadas nesta série de reportagem meses antes do anúncio oficial, davam uma
dimensão do que se supõe atrapalhar investigações. E esse é um dos grandes
incômodos da Polícia Civil por o Ministério Público não ter confirmado o pedido
de prisão preventiva de 15 PMs: estariam tentando atrapalhar as investigações.
Equipes de policiais civis integrantes da comissão de
investigação do caso foram seguidas em diligências entre os municípios de Barro
e Milagres, enquanto buscavam as testemunhas para prestarem depoimentos. “Eles
se colocavam de forma muito próxima, ostensiva, isso acabava gerando uma
situação intimidatória não só para equipe como para as testemunhas, com medo de
falar”. Mas não teria se limitado a uma aproximação “desnecessária”.
De acordo com os investigadores, um homem tentou se
passar por advogado de uma das testemunhas durante o depoimento dentro da
Delegacia. Não era qualquer testemunha da madrugada dos ataques, mas José da
Silva, o ‘Dé’, testemunha-chave, o homem que, com a esposa e a filha mais nova
na porta de casa, recebeu a visita inesperada dos suspeitos do assalto Lucas
Torquato e Rivaldo Azevedo Santos na manhã após os ataques. Integravam a
quadrilha que tentou roubar os bancos, mas naquele momento eram dois homens se
dizendo assaltados e que precisavam de um telefone para fazer ligação. Entre a
chamada realizada e os dois se esconderem no quarto (um debaixo da cama), não se
passaram mais que dez minutos. Ambos foram rendidos por militares do Comando
Tático Rural (Cotar).
– Cadê o dinheiro, vagabundo? Cadê? – indagava um PM.
Lucas foi morto debaixo da cama. No depoimento dos
militares, “houve troca de tiros e, no revide, o indivíduo acabou alvejado”.
Rivaldo, levado preso, foi retirado com algemas e “sem
lesões”, mas apareceria morto minutos depois a caminho da cidade de Barro. Mais
uma inverídica “troca de tiros”.
– Conhece ele?
– Nunca vi
‘Dé’ nunca viu nem pediu pelo homem que se dizia seu
advogado na Delegacia e queria acessar os autos. Depois do episódio, a oitiva
das testemunhas saiu de Milagres para o município de Brejo Santo.
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