Pacote de propostas é recebido com elogios e críticas entre políticos
Mumbai
Ahmedabad
Jair
Bolsonaro, Paulo Guedes, Onyx Lorenzoni entregam o pacote ao presidente do
Congresso, Davi Alcolumbre. - Foto:
Agência Brasil
O pacote de propostas
elaboradas pela equipe econômica do Governo Bolsonaro para reformar o Estado
brasileiro, entregue ontem ao Congresso, gerou reações distintas no meio
político. Apoiadores do presidente elogiaram os esforços para equilibrar as
contas públicas, enquanto os críticos da administração federal receberam o
anúncio com ceticismo.
Como trará impactos para o
futuro dos Estados e municípios, o pacote despertou dúvidas no Ceará. Por isso,
na próxima sexta, a Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece) deve
receber, em Fortaleza, o general Luiz Eduardo Ramos, titular da Secretaria de
Governo, que deve detalhar as propostas em uma reunião com 60 prefeitos.
Na avaliação do deputado
federal Heitor Freire (PSL), as medidas do Governo são importantes para
equilibrar as contas públicas, mesmo “que gere consequências e não agrade a
todos”. “É necessário fazer concessões, contingenciamentos, reduzir custos e
enxugar a máquina pública. Precisamos ser mais racionais e aceitar que se não
houver reformas, o Brasil não avança economicamente”, analisou.
Sobre as mudanças no
funcionalismo público, Heitor informou que o setor precisa passar por
adequações, devido aos “gastos exorbitantes”. “Precisa ser melhorado, para
deixar de oferecer regalias que são incompatíveis com a situação financeira do
País”.
Saúde
e Educação
Já o deputado federal Idilvan
Alencar (PDT) criticou a proposta do Governo de querer unificar pisos de gastos
de Saúde e Educação, e revelou que os parlamentares “vão examinar cada medida e
propor alternativas”. “Defendemos mais recursos para Estados e municípios, mas
de forma alguma abrimos mão de defender a vinculação do teto social que tem que
ser mantido, ainda mais pra educação que tem tantos desafios”, ressaltou.
Atualmente, a Constituição
determina que estados devem destinar 12% da receita à Saúde e 25% à Educação. O
Governo propõe unificar esse porcentual em 37%. Com isso, caberia ao Governo do
estado decidir onde alocar mais recursos. Já municípios devem gastar 15%
receita com Saúde e 25% da com Educação. O novo porcentual proposto, também
único, seria de 40%.
“Defendemos mais recursos para
estados e municípios, mas de forma alguma abrimos mão de defender a vinculação
do teto social que tem que ser mantido, ainda mais pra educação que tem tantos
desafios”, ressaltou.
Houve quem evitasse bater o
martelo sobre as propostas, alegando a necessidade de estudar o pacote.
“Temos que analisar a proposta
ainda”, informou o deputado José Guimarães (PT). Já o deputado Pedro Bezerra
(PTB) informou que “ainda é cedo para se posicionar” e precisa analisar as
propostas com cuidado”. Bezerra avaliou ainda que “o Governo demorou muito para
preparar a proposta”, com a proximidade do fim do ano.
Extinção
de municípios
Já a proposta do Governo de
extinguir municípios com menos de 5.000 habitantes que tenham arrecadação
própria menor que 10% da receita total foi criticada por entidades que
representam os prefeitos.
O presidente da Confederação
Nacional de Municípios (CNM), Glademir Aroldi, afirmou que o Governo se
equivoca ao afirmar que os recursos repassados aos municípios como parte da
arrecadação de Imposto de Renda e Imposto sobre Produtos Industriais (IPI), por
exemplo, não são receitas próprias.
“Transferência obrigatória
constitucional não é arrecadação própria? A competência de arrecadação é da
União, mas a Constituição diz que parte do recurso é do município. Os municípios
produzem, e quem arrecada nas costas deles são os estados e a União”, afirma
Aroldi.
Segundo ele, se for computada
como arrecadação própria só as receitas com IPTU, ITBI e ISS, praticamente
nenhum município com até 5.000 habitantes poderá continuar existindo. “A
Constituição deu a competência da arrecadação de imposto urbanos aos
municípios, mas a maioria tem pequena área urbana. Os municípios não têm espaço
para aumentar a arrecadação desses três tributos. Então vamos fechar todas as
propriedades rurais e vai todo mundo viver nas capitais”, diz o presidente da
CNM.
Fusão
O presidente da Associação
Brasileira dos Municípios (ABM) e prefeito de São Leopoldo (RS), Ary Vanazzi,
afirma que a fusão de municípios não deve passar no Congresso. “Essa questão de
incorporação de municípios é um bode na sala, isso não se sustenta politicamente
nem tecnicamente. Principalmente num ano eleitoral”, afirmou Vanazzi. Ele
também criticou outra proposta do pacote, que impede o Tesouro Nacional de
atuar como avalista de operações de crédito a estados e municípios. A União só
dará, a partir de 2026, garantias a empréstimos contratados junto a organismos
internacionais.
Segundo o presidente da ABM, a
maioria das prefeituras tem hoje capacidade para aumentar seu endividamento.
“Isso vai limitar os municípios de fazer investimento”.
Hoje, o Brasil tem 5.570
cidades. As 1.200 prefeituras possivelmente impactadas no País, portanto,
representariam cerca de 21% do total dos municípios. A regra prevê ainda que
cada município poderá incorporar até três cidades vizinhas nesse processo. O
número de habitantes será medido pelo Censo 2020. Para o líder do governo no
Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), a PEC representará a refundação dos
municípios.
Mudanças
no Senado
Senadores de diversos partidos
disseram que farão mudanças no pacote Mais Brasil, conjunto de três Propostas
de Emenda à Constituição (PECs) de reestruturação do Estado brasileiro entregue
pelo presidente, ontem.
Março
de 2020
“Se o Governo sair daqui com
50%, 60% do seu pacote aprovado no Congresso até março, já é uma grande vitória
para o País”, disse a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do
Senado, Simone Tebet (MDB-MS).
Calendário
eleitoral
Para o líder do PSL no Senado,
Major Olímpio (SP), o discurso do Governo que ele entende como de demonização
do servidor dificulta a situação do pacote. Ele diz ainda que Bolsonaro já não
pode mais contar integralmente com o PSL, partido do qual pretende sair, e que
o calendário eleitoral inviabiliza o Legislativo em 2020.
Efeito
de PECs preocupa prefeitos cearenses
O presidente da Aprece, Nilson
Diniz (PDT), afirmou que o pacote de PECs entregues pelo presidente Jair
Bolsonaro, ontem, ao Congresso preocupa os prefeitos cearenses quanto ao risco
de redução de repasses federais aos municípios.
Segundo Diniz, que também é
prefeito de Cedro, a principal proposta que aflige os gestores é a PEC da
Emergência Fiscal, por estabelecer gatilhos de contenção dos gastos públicos em
caso de crise financeira na União, estados e municípios. Com ela, várias
cidades correm risco de receber menos repasses do Governo Federal. “Nós já
temos 96% dos municípios cearenses que não conseguem pagar nem 10% das despesas
com arrecadação própria. Com menos recursos, como que vai ser possível pagar
despesas da Saúde, Educação, Assistência Social, que só aumentam?”, indaga.
Para ele, a PEC traz medidas
que desconsideram as obrigações impostas aos gestores municipais, já difíceis
de serem cumpridas sem a ajuda do Estado e da União, como destinação de
recursos para a Saúde e Educação. “O Governo impõe várias obrigações, Saúde,
Educação, municipalização do trânsito, entre outras coisas. Eles lhe colocam
uma obrigação, mas não lhe dão as condições necessárias para cumpri-las”,
destaca.
Quanto à proposta (que ainda
depende do aval do Congresso) de extinguir municípios com menos de 5 mil
habitantes e receita própria inferior a 10% dos gastos, a medida pode afetar,
no Ceará, dois municípios, conforme dados de população do último censo do IBGE
e auditoria do Tribunal de Contas do Estado: Granjeiro (ex-distrito de Caririaçu)
e Guaramiranga (Maciço de Baturité).
Fonte:
Diário do Nordeste
Tags:
Ceará
