Governo Federal estuda início da vacinação contra Covid na próxima terça-feira (19)
As
capitais devem ser as primeiras cidades a dar início à vacinação contra a
Covid-19. - Foto: Helene Santos
O Ministério da Saúde estuda o início da vacinação contra
a Covid-19 no Brasil para a próxima terça-feira (19). Oficialmente, no entanto,
ainda não há data fixada. Ontem, o secretário-executivo do Ministério da Saúde,
Élcio Franco, se limitou a dizer que a vacinação começa quando as doses
chegarem a todas as capitais.
"Eu não posso esperar chegar a 5 mil municípios, 38
mil salas de vacinação, para então 'startar' a vacinação. Então, vai começar
quando chegar nas capitais. É essa a ideia", explicou. O planejamento
extraoficial, porém, seria iniciar a imunização em um evento realizado com
governadores, em Brasília.
O ponto de partida seria a aplicação da vacina em um
profissional de saúde e em um idoso. O governador Camilo Santana (PT) confirmou
participação em reunião com o ministro Eduardo Pazuello na próxima terça (19).
"Esperamos que ainda neste mês possamos começar a
vacinação (no País) usando 12 milhões de doses, sendo 10 milhões do Butantan e
2 milhões de Oxford. Estamos prontos, é urgente", disse Camilo.
A preparação do Governo Federal ocorre a poucos dias da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) responder aos pedidos de
autorização para o uso emergencial da vacina no País. Até ontem, a Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Butantan eram os únicos laboratórios a
formalizarem os pedidos. A expectativa é que a Anvisa responda às solicitações
no próximo domingo (17).
Cinco membros da Diretoria da Agência deverão decidir
sobre o uso emergencial. A necessidade de reunião entre os diretores se dá
porque se trata de uso emergencial e em caráter excepcional das vacinas - no
caso de pedidos de registro, a decisão cabe apenas à área técnica.
Estoque
Enquanto as questões burocráticas estão em processo de
resolução, a produção do imunizante continua sendo uma das maiores
preocupações. Com cerca de 212 milhões de pessoas, o Brasil possui apenas 10,8
milhões de vacinas prontas para aplicação. Esse número é da Coronavac, feita em
parceria entre a Sinovac e o Instituto Butantan. O ministro da Saúde, Eduardo
Pazuello, fretou um avião para buscar as dois milhões de doses da vacina de
Oxford, na Índia. O transporte será feito em um voo com origem em Recife, que
vai decolar hoje.
O Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF, na sigla em
inglês) anunciou ontem uma parceria com a União Química para o fornecimento de
dez milhões de doses da vacina russa Sputnik V. Segundo comunicado, os
imunizantes serão entregues no primeiro trimestre de 2021, com início já em
janeiro.
Como parte do acordo, a RDIF deve facilitar a
transferência de tecnologia e fornecer biomateriais para o começo da produção
no País. O fundo russo, junto à União Química, deve solicitar à Anvisa
permissão para uso emergencial da vacina ainda nesta semana.
A Sputnik V já foi aprovada em emergência por Argentina,
Bolívia, Argélia, Sérvia e Palestina. Ainda há negociação para a aquisição de
vacinas da Covaxin (Índia). Há intenção de compra, por parte dos laboratórios
brasileiros, de cinco milhões de unidades do imunizante indiano.
Reunião
O presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Jonas
Donizette, e mais de 100 prefeitos têm encontro marcado com o ministro da
Saúde, Eduardo Pazuello, na manhã de hoje. Donizette estará presencialmente em
Brasília, segundo a assessoria da FNP, e os prefeitos vão participar do
encontro virtualmente para tratar de pontos emergenciais relativos à vacinação
nos municípios. De acordo com a FNP, a pauta da reunião inclui calendário de
imunização, planejamento, organização e logística de aquisição e distribuição
de insumos.
Aquisição
O presidente Jair Bolsonaro afirmou a apoiadores, ontem,
estar há quatro meses "apanhando por causa da vacina" e disse, sobre
o anúncio do Instituto Butantan da eficácia da Coronavac, que agora "estão
vendo a verdade". "Essa de 50% é uma boa vacina ou não? O que eu
apanhei por causa disso, agora estão vendo a verdade. Eu estou há quatro meses
apanhando por causa da vacina. Entre eu e a vacina tem a Anvisa. Eu não sou
irresponsável, não estou a fim de agradar quem quer que seja", afirmou o
presidente.
Na última terça-feira (12), o Instituto Butantan, ligado
ao governo paulista de João Doria (PSDB) e que desenvolve a Coronavac em
parceria com a chinesa Sinovac, anunciou que a taxa de eficácia geral da vacina
contra o novo coronavírus é de 50,38% para prevenir sintomas muito leves da
doença. Na semana passada, o instituto já havia anunciado que a eficácia para
sintomas leves é de 78% e para graves, de 100%. Em resposta a um apoiador que
disse ser da Fiocruz "a vacina certa", Bolsonaro respondeu que será a
certa "a vacina que passar pela Anvisa, seja ela qual for". "Já
temos um crédito de R$ 20 bilhões para comprar", disse.
Transmissão
O secretário estadual da Saúde de São Paulo, Jean
Gorinchteyn, afirmou que, mesmo que o início da vacinação se confirme para
janeiro, o País só deve observar uma redução expressiva na transmissão do
coronavírus no fim de 2021. Ele e Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan,
explicaram que o primeiro impacto da campanha de imunização será a diminuição
de óbitos e internações hospitalares, o que deverá ocorrer a partir de abril.
Somente meses depois, com a vacinação de mais brasileiros além dos grupos
prioritários, veremos o controle da pandemia.
"A vacina que temos hoje disponível no Brasil, do
Butantan, tem grande efeito de diminuir o impacto da doença na sua apresentação
moderada e grave e também no comprometimento do sistema de saúde. A população
de idosos corresponde a 77% das mortes por Covid, mas somente a 12% da
população", explicou Gorinchteyn.
Covas explicou que essas projeções são feitas de acordo
com fatores como as doses previstas para o País e a velocidade da vacinação.
"Essa estimativa é fruto de um estudo que já fizemos comparando a
disponibilidade de doses para o Brasil, o ritmo da vacinação previsto em função
dos dados que já foram apresentados pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações)
e o impacto disso na população em risco".
Diário
do Nordeste
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