STF declara orçamento secreto inconstitucional
O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) considerou nesta segunda-feira,
19, a inconstitucionalidade das emendas do relator, o chamado orçamento
secreto. O julgamento terminou com o placar de 6 a 5.
O Supremo retomou o julgamento nesta segunda-feira. O primeiro voto do dia foi
do ministro Ricardo Lewandowski. Ele afirmou que, apesar dos esforços, o
Congresso Nacional não conseguiu se adequar às exigências de transparência para
que a matéria seja considerada constitucional e acompanhou a relatora da ação.
O voto consolidou a maioria para considerar que a falta de transparência do
orçamento secreto viola a Constituição.
"Considerando o atual estado da questão em debate nesses autos, ainda que
reconheço os avanços alcançados com a aprovação de resolução (pelo Congresso),
sobretudo por atender algumas preocupações ventiladas pelos meus pares no curso
desse julgamento quanto a maior transparência, proporcionalidade na alocação
das emendas do relator geral, entendo que os vícios apontados nas iniciais das
ações sob julgamento continuam persistindo, pois a sistemática ainda vigentes
para distribuição das verbas orçamentárias afrontam as normas constitucionais
que regem a matéria", disse.
Na última sexta-feira, 16, o ministro sinalizou que iria considerar o projeto
de resolução do orçamento secreto aprovado pelo Congresso em seu voto.
Lewandowski disse que a proposta, que vai alterar o Regimento Comum do
Congresso, "é um fato novo e deve ser considerado".
O ministro Gilmar Mendes, último a votar, não considerou o orçamento secreto
inconstitucional e votou para que fossem adotadas medidas para garantir a
transparência e a divulgação dos detalhes das emendas. Mendes fez críticas à
falta de transparência e à ausência de critérios claros na definição da distribuição
dos recursos.
"O procedimento de execução da emenda de relator não segue as mesmas
garantias de transparência e controle público atribuído às emendas individuais.
(...) A força normativa do princípio constitucional republicano impõe que deve
ser transparente e mapeável todo o processo de tomada de decisões do Congresso,
que resulta na alocação de recursos públicos", afirmou.
Como cada ministro votou sobre o orçamento secreto
Até o momento, dos onze ministros do STF, votaram pela inconstitucionalidade do
orçamento secreto:
Rosa Weber (relatora)
Edson Fachin
Luís Roberto Barroso
Luiz Fux
Cármen Lúcia
Ricardo Lewandowski
Votaram contra a inconstitucionalidade:
Alexandre de Moraes - o ministro argumentou que a aprovação de verbas orçamentárias
é prerrogativa do Congresso, mas, apesar disso, votou para que ocorram mudanças
que deem maior transparência ao uso das verbas;
Dias Toffoli;
Kassio Nunes Marques;
André Mendonça
Gilmar Mendes
O que é o orçamento secreto
O que ficou conhecido como "orçamento secreto" é na verdade uma nova
modalidade de emendas parlamentares. Pelas emendas na modalidade RP9, o
relator-geral do orçamento teve a partir de 2019 poderes ampliados, com a
prerrogativa de incluir no orçamento a distribuição de recursos a alguns
parlamentares, para que sejam usadas em obras e projetos que os congressistas
acharem importantes.
A distribuição de recursos para emendas é legal, mas as críticas principais vêm
em relação à falta de transparência das RP9, que têm gerado problemas de uso
ineficiente dos recursos e maior margem a corrupção.
Primeiro porque, nesse modelo, o receptor das emendas é anônimo, de modo que
não é possível saber qual deputado solicitou cada verba.
Além disso, as emendas têm sido usadas nos últimos anos como forma de comprar
apoio de parlamentares no Congresso. Assim, recebe recurso do orçamento não
necessariamente quem tem o melhor projeto, mas quem topou apoiar certa medida
nas votações.
A troca política de apoio por votos e negociações nesse sentido são legais e
faz parte do processo político até certo ponto, mas a falta de transparência é
criticada porque parlamentares podem usar valiosos recursos do orçamento sem
qualquer escrutínio - não só usando o dinheiro público em obras e projetos que
não necessariamente são os melhores naquele momento, como abrindo espaço para
eventuais desvios.
Por fim, outro ponto em debate é o impacto do orçamento secreto na
governabilidade e separação entre os poderes. Todo o processo ocorre
diretamente no Legislativo, que ganhou mais poder em relação ao cenário antes
das RP9, e hoje lida com bilhões do orçamento público sem ingerência do
Executivo.
Anteriormente, era mais comum que parlamentares tivessem de negociar amplamente
com o Executivo para obter recursos, diante do modelo presidencialista no
Brasil. A situação têm feito analistas argumentarem que o Brasil, nesse modelo,
pode estar já vivendo um "semiparlamentarismo", e que um presidente
eleito terá pouca margem de manobra no Congresso para aprovar projetos se não
ocorrerem mudanças.
Fonte:
Exame